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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O que você não sabe sobre aquele caminhão que te fechou na estrada

Deixe-me falar um pouco sobre aquele caminhoneiro para quem você mostrou o dedo porque ele estava ultrapassando outro caminhão, te obrigando a reduzir até que ele completasse a ultrapassagem e se posicionasse de volta na faixa.
A velocidade de seu caminhão é limitada, porque a companhia para quem ele trabalha acredita que isso é melhor para a segurança dele, dos outros motoristas e do próprio caminhão.
O caminhão que ele ultrapassou deveria estar a uns 75 km/h para economizar combustível. Entenda, a média de consumo de combustível de um caminhão desses é de 3 km/l de diesel. E sim, muitas vezes o caminhoneiro paga por seu próprio combustível.
Ele precisa estar a 1.631 km do lugar onde carregou seu caminhão em dois dias. E ele não pode falsificar os registros da viagem, pois estes não são mais feitos no papel; são eletrônicos.
Ele pode dirigir por onze horas em um período de 14 horas, e então parar por dez horas. E como a companhia onde foi feito o carregamento o prendeu por cinco horas por filas e falta de pessoal, ele agora precisa dirigir sem parar para comer ou descansar.
Se ele perder o horário da entrega, sera reagendado para o próximo dia, pois o receptor tem horários bem rigorosos para descargas (e um quadro de funcionários bem reduzido). Isso significa que o caminhoneiro terá que esperar, perdendo mais de 800 km na semana.
O resultado: seus ganhos serão reduzidos, e ele levará menos dinheiro para sua família. A maior parte destes caras pega a estrada por dez dias, volta para casa e fica lá por um dia e meio, e consegue uma média de 500 dólares por semana se tudo correr bem – no Brasil, a renda média bruta de um caminhoneiro é de 2.500 reais.
Não dá para dizer só de olhar para ele, mas há duas horas ele recebeu uma ligação avisando que sua única irmã sofreu um acidente de carro, e embora tenham feito o possível para salvá-la, ela morreu. Eles a mandaram de avião para um hospital em Detroit, mas era tarde demais.
Ele não a via desde o Natal, mas os dois conversavam toda semana por telefone. A carga que ele leva vai para Atlanta, e ele provavelmente não chegará a tempo para o funeral.
Seu despachante fará de tudo para que ele consiga chegar lá, mas as chances são mínimas. O caminhoneiro nem percebeu seu descontentamento por ter que reduzir para ele. Não que ele não se importe. Ele só está desorientado.
Tudo o que você compra em uma loja e tudo o que você compra pela Internet é transportado de caminhão. Aviões e trens não podem levá-las para sua casa ou para o mercado. Somos dependentes dos caminhões para levar mercadorias do aeroporto e das estações de trem para as lojas e para nossas casas.
Todos os dias motoristas experientes e qualificados desistem do trabalho porque o governo, o trânsito, as estradas, os ladrões e as companhias gananciosas envolvidas com o transporte rodoviário sugaram todo o seu entusiasmo por essa vida.
Eles pegam o primeiro emprego que aparece em uma fábrica ou como vendedores, e são substituídos por um jovem inexperiente que sonha em passar a vida na estrada. Esta inexperiência se traduz em entregas atrasadas, levando a escassez de produtos, preços mais altos nas lojas, e a acidentes que levam a mortes desnecessárias.
Pode até ser que isso tenha causado a morte da irmã desse caminhoneiro.
Esta é uma história real, que aconteceu na semana passada. O nome do caminhoneiro é Harold, e eu sou seu despachante.
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Dan Hanson é gerente de frota de uma transportadora em Minnesota. Este artigo foi originalmente publicado no The Minneapolis Star-Tribune no dia 03 de agosto de 2011, e foi reproduzida aqui com permissão. Crédito pelas fotos: bradleygee, J Jackson Photography.

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